sexta-feira, 26 de junho de 2009

Diário de Uma Linda Mulher Chamada Juju

“FELIZ ANO NOVO”

Gente, feliz ano novo! É uma maravilha quando a gente tem aquela expectativa do ano que se inicia, não é mesmo? Ainda mais, quando a gente faz aquele monte de promessas que não vai cumprir. Mas, a gente tenta. Verdade. Quem não consegue cumprir uma promessa, sabe muito bem com é difícil tentar cumprir.
Falando nisso, quero compartilhar com vocês as minhas tentativas de cumprir as minhas promessas. E, dessa vez, eu vou conseguir. Uma geminiana com ascendente em libra tem determinação. Mesmo que seja de um alcoólatra dentro de um bar dizendo que vai ser a última vez que ele toma um gole de cachaça, depois do décimo copo.
Uma das promessas, essa nós mulheres fazemos todos os anos, é de diminuir o peso. Gente, e como a gente sofre com isso. Eu me lembro que eu dormi como uma sereia e acordei como uma baleia encalhada numa praia. O que é pior, cheia de surfistas sarados e deliciosos tentando me tirar da areia. Mas, no dia trinta e um do ano passado, eu me olhei no espelho e me vi, não por inteira, por que o meu espelho da sala é só uma faixa de um metro e cinqüenta de largura por dois metros de altura. Um espelho pequeno, nas devidas proporções. E eu vi que eu estava cheinha. Uns quilinhos a mais. Uns dez ou vinte. E disse pra mim mesma – “menina, depois de hoje á noite, é regime”. Toneladas de saladas verdes, água natural, sucos ácidos, e uma meta, voltar a usar os vestidos que eu usava há dez anos atrás. Aí, me lembrei de como eu era há dez anos atrás e eu me deprimi. Eu era magrinha, cintura violão, cabelo tingido, mas sedoso, sem rugas de expressão, até meio gostosinha. E, olhando as partes que cabiam no espelho, e olha que eu não sou gorda “gorda”, sou muito saudável, me deu um aperto aqui no peito. E eu iria na casa da minha amiga Simone para a ceia. E lá eles comem muito. E o que mais eu odeio naquela gente, todo mundo em forma. Nem os caras que têm aquela usual barriga de cerveja, não tem. Ai, que ódio!
Mas eu fui. Determinada a comer um prato de lentilha – pra trazer dinheiro -, ignorar a carne de porco – muita gordura -, beber cidra moderadamente – tem muitas calorias – , e evitar, categoricamente, todas as tentações que estariam naquela mesa maravilhosa. Ah, veio a virada de ano. Estoura champanhe de um lado, e a comida rolando de outro e eu ali, firme, agradecendo tudo e me servindo o mínimo possível. Enchi um prato com uma salada verde, peguei um pedacinho de carne de porco, mínimo mesmo, e um pouquinho de lentilha. E, pra descer toda aquela comida saudável e insossa, peguei mais uma taça de champanhe que o Pedro, irmão da Simone, encheu pra mim. Foi o pratinho numa boa. E, para evitar que a tentação me pegasse, fui para a sala com meia garrafa de cidra que eu achei abandonada num canto da sala de jantar. Fui para a sala e comecei a conversar com o Pedro e o desgraçado, com aquele tanquinho na barriga, não parava de comer na minha frente. E de trazer mais champanhe. Eu, evitava olhar para aquele prato de caminhoneiro, com comida até a borda, e com mais coisas que eu, graças a Deus, nem sabia que tinha. E, ele muito atencioso, me oferecia, esse desgraçado filho da mãe. Mas, eu gentilmente negava.
E começou a fissura gastronômica. Era “Lombinho a Pururuca”, “Arroz à Grega”, “Lentilha com Queijo Roquefort”, “Costelinha Doze Horas”, “Salada com Iogurte”, e mais um cardápio que eu delirava toda a vez que ele aparecia na minha frente com aquele prato transbordando. E assim que ele chegava, eu saia, para evitar assistir aquela pouca vergonha maravilhosa. Eu tinha vontade de me atracar no prato com um cachorro ataca um osso. Mas, eu resistia. Ele sentava, eu ia buscar mais champanhe para disfarçar a fome.
Aí, gente, nem sei como eu vou contar o que aconteceu. Não por vergonha, mas por que eu não lembro mesmo. Apaguei. Acho que de tanta champanhe, acabei tomando um porre homérico. Acordei no hospital, com uma agulha de glicose na minha veia, com a roupa toda suja como quem brigou na rua.
Me apavorei. Consegui achar o celular na minha bolsa e liguei para a Simone.
O pai dela me atendeu. Quando eu falei o meu nome, não entendi o porquê da gargalhada, mas eu senti um frio descendo pela minha espinha. E, sem o mínimo pudor, ele me contou como eu tinha ido parar naquela sala de emergência.
Ele me disse, que eu tive um ataque. Que o champanhe tinha me deixado, um pouco alta. Falando bem a verdade, muito alta. Eu tinha “mamado” quinze champanhes deles. E que ataquei, desesperada, a mesa, comendo pratos e mais pratos de comida, com se eu tivesse vindo da Etiópia. Não só tinham ido os pratos que eu falei antes, como até os bombons que eu achei escondido no fundo do armário, a comida do cachorro, até as frutas de cera que a mãe da Simone colocava em cima da mesa de centro da sala.
Eu queria morrer! Ele me disse que tiveram que me imobilizar para que eu não comesse mais nada. Numa camisa de força. E eu nem vi os enfermeiros. Que saco. E que a mobília escapou por que não tinha dado tempo de eu morder, e que, nem o prato do cachorro que estava cheio de restos de comida chinesa do almoço, escapou..
Depois, ele me disse que, assim que a Simone, chegasse, ele pediria para ela me ligar. Agradeci pela gentileza. E, ele em tom de deboche, disse que eles iriam encher a despensa deles para quando eu fosse visitar não passasse fome. Ai, que ódio!
Bem, sendo muito sincera, eu não tive culpa. Isso mesmo: eu não tive culpa! Todo mundo é testemunha de que eu resisti bravamente. Mas eu fui tentada. Tentada, e muito bem tentada, pelo irmão da Simone e sucumbi àquele champanhe vagabundo.
E quer saber o que é pior? Eu nem lembro do gosto daquele Lombinho à Pururuca.

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